Fórum Internacional de Ciências Bíblicas dá paz e lança desafios
Realizado nos dias 18 e 19 de setembro no Centro de Eventos de Barueri (SP), 19º Fórum Internacional de Ciências Bíblicas trouxe convidados internacionais e promoveu debates de alto nível com o tema “A Bíblia dá Paz”
A violência está em toda parte. Até mesmo em um livro que fala de guerras, conflitos, crises e de um Senhor dos Exércitos, mas que produz, na verdade, vida e paz em abundância. Contradição? Não quando estamos falando não do noticiário do dia, mas da Bíblia, a Palavra de Deus. “A violência nunca tem a última palavra, mas essa paz vem de Deus e precisa ser construída em cada ser humano”, disse o Dr. Christoph Rösel, Secretário-Geral da Sociedade Bíblica da Alemanha, em Barueri, na Grande São Paulo. Ali, no Centro de Eventos do município, o mesmo local onde está localizado o Museu da Bíblia, durante dois dias, a teologia foi o centro das atenções, provocando debates do mais alto nível e gerando importantes reflexões durante a 19ª edição do Fórum Internacional de Ciências Bíblicas (FICB), um dos mais importantes espaços de discussão das Escrituras no Brasil atualmente.
Este ano, o evento aconteceu nos dias 18 e 19 de setembro. Foi no primeiro dia que o Dr. Rösel tratou da “Violência à paz no livro dos Salmos” e aproveitou para desfazer alguns equívocos de muitos na interpretação bíblica: “Aceitar que a violência é uma realidade no mundo, mesmo no cotidiano daqueles que são povo de Deus, apenas atesta a veracidade e a relevância da Bíblia. Nos salmos de lamentação, ela faz parte das queixas e petições dos adoradores numa referência a seus inimigos. Mas é vencida pela entrega da situação a Deus e substituída pela paz que vem da intervenção e resgate do poderoso Senhor dos Exércitos”.
Levar a Palavra de Deus aos surdos foi o grande foco da palestra trazida no segundo dia por outra convidada internacional do Fórum, a Dra. Isela Trujillo. Consultora de Tradução das Sociedades Bíblicas Unidas, a mexicana falou sobre a “Tradução da Bíblia para as línguas de sinais”, tema no qual é uma das maiores especialistas em todo mundo.
“As línguas de sinais são estruturadas e, normalmente, as únicas que as pessoas surdas entendem completamente e com mais facilidade. E não são poucas. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo sejam deficientes auditivas. Dessas, 72 milhões são surdas de nascença. Apesar disso, apenas 8% delas tem a Bíblia em sua língua. E 5% estão em um único país, os Estados Unidos”, explicou ela, dimensionando o problema.
Mas não somente isso. Ainda de acordo com Trujillo, existem entre 300 e 400 línguas de sinais no planeta, mas só uma com a Bíblia completa. Porém, há 38 projetos de tradução no mundo. Desses, 14 estão nas Américas, e 4 estão em fase de planejamento. Um dos que estão em plena atividade é o brasileiro. Todos muito carentes de ajuda e de recursos. E não à toa, uma vez que a tradução para línguas de sinais é feita por meio de vídeos e exige tradutores bastante qualificados.
“A Bíblia dá paz”
Em sua 19ª edição, o FICB teve como tema geral “A Bíblia dá Paz”. Com a participação presencial de mais de 250 pessoas em cada dia e outras 1.400, que acompanharam tudo on-line, o evento debateu as diversas maneiras pelas quais a Bíblia é capaz de conceder a paz a um mundo em crise e em conflitos. “A Bíblia, como Palavra de Deus, é um livro capaz de transformar vidas e trazer paz em quaisquer circunstâncias. Mas precisamos compreender o grande desafio de leva-la a todos que necessitam dela”, explicou o Reverendo Erní Walter Seibert, Diretor-Executivo da SBB, que abriu o evento com a palestra “A cultura e o cultivo da Bíblia”.
Como na prática da agricultura, em que a semente deve ser plantada e a plantação cultivada, também a Palavra precisa se tornar acessível às pessoas em uma linguagem em que entendam. Mas o trabalho não acaba aí. De acordo com Seibert, seguindo o Ciclo de Vida da Bíblia, a mensagem deve ser trabalhada para produzir, ou seja, transformar a vida das pessoas e as culturas das comunidades e das populações.
Transformação de vidas e culturas também foi assunto para as mesas temáticas. Na primeira, moderada pelo Reverendo Paulo Teixeira, Secretário de Tradução e Publicações da SBB, os professores Sérgio Ribeiro Santos, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e Marcos Almeida, da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, debateram as vivências e desafios da Bíblia em sua relação com a educação e a sociedade. Na segunda, com a moderação do Reverendo Mário Rost, Gerente de Desenvolvimento Institucional da SBB, foi a vez dos professores Pedro Henrique Vercelino, do Seminário Palavra da Vida, e Rafael Dietrich, do Seminário Servo de Cristo, discutirem como levar as novas gerações à leitura e ao engajamento com a Bíblia.
A Bíblia como ciência
Novidade nesta edição foram as comunicações científicas. Em dois eixos temáticos – Bíblia e Tradução e Bíblia e Teologia Aplicada – estudantes de mestrado e doutorado na área de Teologia puderam apresentar seus trabalhos e pesquisas acadêmicas. Artur Freire Ribeiro, doutorando pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, falou sobre “A atualização da linguagem da Bíblia de Almeida: Resultados de uma pesquisa”. Já Neimar Plack Brauwers, mestre pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA) apresentou “O diálogo inter-religioso no espaço virtual”. Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará, Samuel Marques Campo abordou “A pregação de Jesus segundo a tradição sinótica como um poderoso norte frente aos desafios pós-modernos”.
Rico e profundo, o FICB foi também muito prático. Exemplos, histórias e testemunhos foram contados e marcaram toda a programação. “A população carcerária no Brasil é um verdadeiro campo missionário e bastante desafiador. Segundo dados da Secretaria de Administração Presidiária, mais de 195 mil homens e mulheres estão presos somente no Estado de São Paulo. Ainda estamos estruturando esse trabalho de capelania e evangelização para chegar a todos em todas as cadeias e presídios. Porém, em parceria com a SBB, cada vez mais vidas têm recebido a Palavra de Deus e sido transformada por elas. Deus nos dirige às pessoas e, com lágrimas, elas nos procuram para orar, clamando pela verdadeira liberdade, que é do pecado”, relatou o evangelista e capelão Diego Rodrigo Cardoso, da Associação Assistencial e Comunitária Azarias, ligada à Igreja Assembleia de Deus de Perus, da capital paulista, que apresentou um case falando sobre a distribuição de Bíblias em presídios.
Se sobraram perguntas diante dos vários desafios, quem participou da 19ª edição do Fórum Internacional de Ciências Bíblicas saiu com uma convicção: em pleno século 21, a Bíblia continua sendo o livro necessário e essencial para o mundo, o único capaz de trazer as tão buscadas respostas e ser a referência que o ser humano precisa.